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segunda-feira, 23 de maio de 2011

 REFLEXÃO
MAL-HUMORADOS, ACAUTELAI-VOS!
Públio José – jornalista
A grande novidade hoje em dia, no campo da motivação, da positividade, da chamada auto-ajuda, dissecada, analisada, estudada, observada em palestras, encontros, seminários, simpósios e eventos semelhantes, consiste na tentativa de levar as pessoas a adotar em suas vidas, entre outros comportamentos, uma postura positiva, firme, de entusiasmo, de alegria.
Nada de tristeza, de cara amarrada, de astral para baixo, de mal-humor, dizem os pais desse interessante ramo de atividade, por sinal muito aplaudido nos mais diferentes segmentos. Para empresas, times de futebol, igrejas, associações de funcionários, repartições públicas, bancos, etc, etc, tudo se resume a motivar seus exércitos a encarar os desafios da vida de maneira, tchan, tchan, tchan, tchan, de maneira, tchan, tchan, tchan, de maneira pooooositivaaaaaaaa! Ufa! Tem de ser positivo, tem de ser alegre, tem de está sempre legal.
E, entre tantas coisas receitadas por tais palestrantes, uma particularmente me chamou a atenção. Eles aconselham você a se afastar dos mal- humorados, das pessoas negativas, daquelas que em tudo encontram motivo para reclamar. De fato, é muito chato você ser obrigado, por alguma contingência da vida, a permanecer próximo de gente assim. Não só a Medicina e a Psiquiatria ensinam que o mal-humor é contagiante e altamente prejudicial à saúde e ao desempenho profissional. Outros ramos do conhecimento humano também nos direcionam nesse sentido.
Mas, aproveitando a onda atual levantada pela turma que está por todo canto pregando a motivação, a positividade, é chegada a hora, então, de perguntar. Se todos os alegres se afastarem dos mal-humorados, como ficará a rotina destes últimos? Como operarão suas vidas diante de tamanho isolamento?
Será que este ideário, ao invés de solucionar os problemas de motivação dos motiváveis, não está criando uma onda de segregação junto àqueles que não são catalogados como tais? Aliás, numa repartição, numa empresa qualquer, como seria feita a divisão entre os de bom-humor e os de mal-humor? Entre os que aderem à positividade e os que não aderem? Por outro lado, como você, no seu dia a dia, se afasta, se isola, de repente, de uma hora para outra, de alguém classificado como mal-humorado? Claro que existe certa dose de exagero nesse meu raciocínio.
Mas é verdade, também, que muitos exageros já foram cometidos pela raça humana a partir de certos conceitos, de certas conclusões apregoadas como resposta para muitos problemas – e que trouxeram à humanidade, tempos depois, enormes prejuízos. Nero, Hitler, Stálin, Evo Morales, Hugo Chavez, por exemplo, estão aí para confirmar.
Fico preocupado sim com conclusões que excluem, que segregam, que separam. Pois não há como separar as realidades impostas pelo mover das catracas do mundo, pelo inexorável passar dos dias, trazendo ansiedades, decepções e desafios que nos afetam – por mais fortes que sejamos. Sou, ao contrário, partidário da compaixão, da compreensão, de ouvir pessoas com carinho e atenção para ajudá-las diante dos traumas e decepções da vida.
Também não estou aqui para criticar o discurso dos palestrantes que enchem auditórios e elevam, às alturas, a auto-estima dos seus circunstantes. Mas advogo uma segunda via: a de amar os mal-humorados, compreendendo seus problemas, suas angústias. Com isso, não zeraríamos, de todo, o universo dos azedos, dos iracundos, mas, com certeza, diminuiríamos bastante a taxa mundial do mal-humor. O que já seria uma grande vantagem, você não acha?

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